Por Fabiano Fagundes
Graduado, especialista e mestre em Ciência da Computação pela UFSC. Professor dos cursos de Ciência da Computação, Sistemas de Informação e Comunicação Social e acadêmico do curso de Psicologia do CEULP/ULBRA.
Um determinado pesquisador informou que, através de alguns testes,
contabilizou que mentimos cerca de três vezes a cada dez minutos.
Discordâncias metodológicas para um lado, senso comum para outro, e
estamos nós parados a pensar: “três vezes a cada dez minutos?”.
Antes mesmos que pensemos em como invalidar esta afirmação, nossas
mentes já nos colocaram frente a frente com algumas poucas, digamos,
inverdades que acabamos de largar por aí.
Sejam os quinhentos gramas a
menos que vimos em nossa balança (vimos, sim, o ponteiro estava meio
quilo a menos, tenho certeza), sejam os dez minutos de atraso por causa
do trânsito (sim, porque os dez minutos a mais na cama, estes não
contam), começamos compreender que, a contragosto, acabamos de
acrescentar algumas mentirinhas a mais aos nossos currículos.
“Mas isso nem é mentira”, logo começamos a transigir.
“Isso é só uma,
assim, como se diz, bem...”. Mentira, sim, mentira. Até onde eu sei (e
minha mãe fazia questão de não me deixar esquecer), mentira não tem
tamanho. Não é algo que si diz: “até aqui é mentira”, ou “tanto por
cento de verdade, o resto é mentira”. Mentira é mentira, e ponto.
Então somos todos mentirosos. Sim, somos.
Felizmente somos, até para
manter nossa sanidade (e nossas amizades), porque não aguentaríamos
tanta sinceridade e verdade em todos os momentos de nossas vidas.
Precisamos justificar a nossa ausência a determinados eventos afinal
não é sempre que estamos dispostos ou animados para participar daquele
sarau cultural em que, pela milionésima vez, aquele dito intelectual vai
recitar aquele spam que encontrou na internet e que alguém disse que
era do Fernando Pessoa.
Também
necessitamos manter nossa casa em paz quando alguém muito querido nos
faz aquela pergunta que já vem grudada com a resposta esperada: “estou
bem assim?”. Outra resposta diferente do sim pode gerar resultados muito
desagradáveis.
Aqui vai um conselho: não tente isso em casa.
Talvez por isso se diga tanto que usamos máscaras: no trabalho, na universidade, em casa, com os sogros, com os amigos do futebol. Sim, buscamos nos fazer queridos, próximos, amáveis e amados, e com isso nos adaptamos um pouco a cada espaço, a casa meio, a cada grupo social com que interagimos.
Talvez por isso se diga tanto que usamos máscaras: no trabalho, na universidade, em casa, com os sogros, com os amigos do futebol. Sim, buscamos nos fazer queridos, próximos, amáveis e amados, e com isso nos adaptamos um pouco a cada espaço, a casa meio, a cada grupo social com que interagimos.
E é assim que nossas mentiras entram em cena. Quando, para vivermos em relativa paz social, eu, você, a gente encena.
Mas quando isso se torna errado, patológico, anormal? Ora, é simples,
nós sabemos: quando dispomos de mais energia para manter nossas
encenações do que gastamos para viver nossos sentimentos; quando temos
máscaras tão distantes do que somos verdadeiramente que, quando dois
grupos diferentes se cruzam, não sabemos como agir, pois somos duas
pessoas diferentes, uma para cada grupo; quando dispensamos mais tempo
pensando no que vamos fazer para agradar a alguém do que realmente
fazendo algo que verdadeiramente desejamos.
Enfim, quando chegamos ao
final do dia e vemos que a plateia para quem encenamos não está nos
aplaudindo, que o cenário se transformou em uma grande farsa, e que o
palco em que vivemos nossa vida passa a ser mais uma tragédia do que uma
comédia dell’arte.
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